terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Graça Guedes DANÇA NO DIÁLOGO INTERCULTURAL

AS MULHERES PORTUGUESAS NO MUNDO
a Dança no diálogo intercultural


Prof. Doutora Maria da Graça Sousa Guedes
Professora Catedrática do ISCS-N
gracaguedes@net.sapo.pt




INTRODUÇÃO


O comportamento social da mulher e o desenvolvimento dos mecanismos responsáveis pelo seu ajustamento, ocorre em função da cultura, que parece funcionar como elemento determinante do seu bem – estar.

Num diálogo intercultural, as mulheres e as jovens da diáspora portuguesa têm utilizado actividades corporais em forma de DANÇA, que é dinamizada nas Associações portuguesas espalhadas pelo mundo.

Dançando o nosso património cultural, preservam-no, valorizam-no e divulgam-no, numa participação espontânea, alegre, activa, motivadora e paritária, que importa não ser interrompido pelas novas gerações.

Para que os jovens e as jovens de origem portuguesa continuem a desempenhar este papel, é necessário providenciar motivações, com actividades adequadas e atractivas, para que frequentem estes espaços portugueses e continuem o papel desempenhado pelos seus pais, com igual dinamismo e vontade de preservar a língua e a cultura portuguesa.











• Directora do Departamento de Ciências do Desporto do ISCS-N
Presidente da Assembleia Geral do Sporting Clube de Espinho
Vice-Presidente da Assembleia Geral do Orfeão de Espinho


CORPORALIDADE VERSUS GÉNERO FEMININO

Na grande maioria das sociedades humanas, existe um desequilíbrio entre géneros: a mulher percepciona-se inferior ao homem no desempenho de papéis socialmente determinantes, ocasionando conflitos que interferem na sua auto-estima. Segundo Fox (1998), é com frequência que as mulheres não têm confiança nas suas habilidades, quando se comparam com os homens, pelo que interfere na sua auto-confiança e na relação com o seu corpo, bem como nas expectativas das suas eficácias no desporto.

Já em 1945, Merleau-Ponty falava na necessidade de se descrever o corpo, como o lugar de aproximação existencial; o espaço onde realizamos no mundo um conjunto de significações, eleitas para conferir sentido à nossa existência.

Ora, se consideramos a corporalidade como forma dos nossos reflexos, temos de questionar acerca do lugar que ocupa na sua vida; investigar acerca da apropriação significativa realizada pela mulher no horizonte das suas experiências.

A auto-estima e o auto-conceito, de mulher ocidental reflecte o efeito de uma forte influência social, seguido como fonte de possíveis desajustamentos ou de conflitos interpessoais, com repercussões na sua imagem corporal e na sua saúde mental.

É cada vez maior o número de mulheres que recorrem à prática de actividades físicas, com a finalidade de encontrarem o seu bem-estar psicológico e assim combaterem os efeitos de conflitos internos e de pressões causadas pelo modelo social, que se traduzem em ansiedade, depressão, folias, alterações negativas de humor, do auto-conceito e de auto-estima.

Para Altermann & Saole (2000), os níveis baixos de auto-estima podem conduzir a patologias diversas, comprometendo a qualidade de vida, para além de interferirem nos níveis de satisfação com a vida.

As diferenças de género, que estão bem impressas nas estruturas sociais e mentais (Bordieu, 1996), parecem potenciar-se no âmbito de actividade física e do desporto.

Verifica-se o desenvolvimento de atitudes preconceituosas e de estereótipos de género, que são limitadores na construção de feminilidade e de masculinidade. Incutem, subtilmente, a ideia de uma imagem hegemónica masculina, expressa num padrão legitimo de masculinidade (Botelho Gomes et al. , 2002)

Ora é a Escola que deve atender à pluralidade de cultura que caracteriza o desporto e, segundo Thoberge (1991), à sua irrisória mentalidade na construção dos géneros. Esta falha mentalidade do Desporto, lidando com os alunos e as alunas da mesma maneira, numa errónea suposição de que assim se atinge a justiça e a igualdade de oportunidades, tem inquinado a educação. Esta falsa mentalidade é contrariada por Patrício (1990), que afirma categoricamente que educamos personalidades irrepetíveis e que nos projectos individuais de existência, devem estar incluídos os diversos saberes e culturas.

A Escola tem efectivamente de respeitar e de implementar os princípios de equidade, que assegurem justeza e justiça no processo educativo. E, assim sendo, a Actividade Física e o Desporto devem propiciar a auto-estima e a competência, de forma a que seja percebida pelos alunos e pelas alunas, de modo que todos e não importa o género, vejam estas práticas corporais como actividades incluídas no seu quotidiano e que devem permanecer ao longo das suas vidas. E, para tal, é fundamental que tenham prazer ao praticá-las.

Hoje são consensuais as noções de que a actividade física regular assume um papel relevante na promoção de um estilo de vida saudável e de que níveis elevados de actividade de uma participação similar quando adultos.

E esta prática regular de actividade física acontece naturalmente na mulher da diáspora portuguesa quando dança as nossas tradições, para afirmação e divulgação da cultura portuguesa no mundo dinamizada nas suas associações.

As danças, assim como cantares, constituem um património cultural extremamente rico e diversificado, com o qual os portugueses da diáspora se identificam e se formam agentes de preservação das suas tradições.

Interpretam-nas com um grande prazer e orgulho, na certeza de estarem a contribuir para que sejam mantidas vivas as suas raízes e, consequentemente, fortalecerem o diálogo entre os dois universos que os condicionam.

E nelas podem participar todos, não importa a idade e o género. Mesmo quando não dançam, fazem parte dos coros ou dos grupos instrumentais que as acompanham.


A MULHER DA DIÁSPORA PORTUGUESA E O DIÁLOGO INTERCULTURAL

O associativismo na diáspora portuguesa constituiu uma forma de conjugar indivíduos com interesses ou gostos análogos, que tem favorecido a implementação de objectivos comuns: convivência social, prossecução de práticas culturais, recreativas e desportivas, para além da defesa de interesses nos centros de saúde, do trabalho, das condições de vida, da política (Guedes, 1995).

As Associações portuguesas espalhadas pelo mundo, podem efectivamente ser consideradas como um processo globalizante de interpretações sociais e um meio privilegiado para o estabelecimento de um diálogo intercultural, que se alicerça no fortalecimento dos seus próprios valores culturais.

O elevado número de associações que abrange todos os continentes, reflecte a espontânea necessidade em manter e cultivar a sua própria identidade, de forma a criar mecanismos próprios para defesa dos seus interesses, bem como para manifestar uma presença activa no país de acolhimento.

Nestes espaços de convívio que os portugueses criaram em todo o mundo e que se destinam à sua sobrevivência cultural, são desenvolvidos diferentes tipos de actividades. Pode haver algumas diferenças, dependentes das suas motivações, mas em quase todas há Desporto e há Folclore.

Tive a oportunidade de conhecer uma grande parte de Associações na Europa (França e Suiça), em África (Zaire e África do Sul), na América do Norte e Central (EUA, Canadá e Panamá), na América do Sul (Brasil, Venezuela, Uruguai e Argentina), na Ásia (Malaca) e de trabalhar com os Grupos de Folclore, reconhecendo um empenho extraordinário de todos e uma vontade de melhorar e aumentar os seus reportórios.

Reflectindo uma Cultura Motora inerente às suas vivências e às suas memórias, procuravam reproduzi-las com rigôr. Com todos eles procurei corrigir alguns defeitos, melhorar as suas prestações, adequar as coreografias e os passos inerentes às Danças portuguesas, ampliar os reportórios bem como as músicas e os instrumentos a que recorriam. Foi uma tarefa extremamente enriquecedora que vivenciei e, se em alguns casos, o tempo de duração foi favorável, tal como no Uruguai e em Malaca (15 dias), nos outros casos foi menos intenso, mas a dedicação de todos e em regime pós-laboral, propiciou excelentes progressos.

Estas acções foram reconhecidas pela minha Faculdade – Educação Física e Desporto da Universidade do Porto – e expressas em diplomas entregues a todos os participantes.

No Encontro Mundial de Mulheres Migrantes, realizado em Espinho em 1995, apresentei um estudo que realizei acerca do papel do Folclore na aculturação dos povos, no qual foram quantificados os grupos então existentes nas Associações e distribuídos pelos continentes (Quadro nº. 1).


Quadro nº 1 - Grupos de Folclore nas Associações Portuguesas

CONTINENTES ASSOCIAÇÕES GRUPOS DE FOLCLORE
EUROPA
1057 446
ÁFRICA
100 22
AMÉRICA DO NORTE
448 94
AMÉRICA CENTRAL E DO SUL
289 74
TOTAL
1894 636
Guedes, 1995

Haverá provavelmente alguma alteração nestes valores e que valerá a pena actualizar, uma vez que estão decorridos já bastantes anos. E, complementarmente, conhecer mais acerca das modalidades desportivas existentes, quantidade de participantes envolvidos e distribuídos em função do género e idade.


O Folclore, é efectivamente praticado em quase um terço das Associações. E, porque as danças portuguesas são caracterizadamente realizadas aos pares, há necessariamente uma participação com paridade entre géneros.

Para além destas práticas corporais constituírem um celeiro de novas sementes, que fertilizam a dinâmica corporal expressa em dança, há também relações de género.

Há educação estética, como processo formativo do ser humano, mas também como processo de abertura e de ampliação das capacidades de sinalização para aceite, em relação ao outro (género) e em relação ao mundo (educação) que não pode ser desvalorizado nem interrompido, com uma participação cada vez maior e atractiva para os mais novos.

No Desporto, a participação feminina não será significativa, não porque tenham sido levantados dados relativos a este tipo de envolvência, mas por conhecimento pessoal obtido nas visitas às Associações.

As jovens e as mulheres portuguesas dançam o nosso património cultural, preservando-o e divulgando-o, numa participação espontânea, alegre, activa, motivadora e paritária.

Há certamente muitas jovens que praticam desportos e ao mais elevado nível, como também de outras actividades culturais. Estarão provavelmente distantes da comunidade portuguesa e não utilizam as suas performances para atraírem e motivarem os mais novos para as práticas que dominam. Mas estas jovens podem ser agentes excelentes para as dinamizarem nas Associações portuguesas.

Consequentemente, estes espaços ficariam enriquecidos com a presença constante das novas gerações e de novas actividades, que arrastariam os amigos e potencializariam cada vez mais estes magníficos espaços portugueses espalhados pelo mundo.

Para tal, importa que as suas Direcções consciencializem a importância destes contributos, que irão dar continuidade ao contributo notável que têm dado para a concretização de um processo globalizante de interpretações sociais neste meio privilegiado onde se estabelece um diálogo intercultural, alicerçado no fortalecimento dos seus próprios valores culturais.






CONCLUSÃO

Apesar de ser cada vez maior o número de mulheres que recorrem à prática de actividades físicas, com a finalidade de encontrarem o seu bem-estar psicológico, a sociedade portuguesa é ainda hoje impressa de atitudes preconceituosas e de estereótipos de género, que são limitadores de uma prática desportiva feminina mais dinamizada, diversificada e divulgada.


Nas Associações, esses espaços de convívio que os portugueses criaram em todo o mundo e que se destinam à sua sobrevivência cultural, são desenvolvidos diferentes tipos de actividades, onde o desporto e o folclore são uma constante.

Se, no Desporto, a participação feminina não será significativa, no Folclore há paridade de géneros, na medida em que as danças portuguesas que praticam são realizadas aos pares, tal como é caracterizada a dança tradicional portuguesa.

As jovens e as mulheres portuguesas dançam o nosso património cultural, preservando-o e divulgando-o, numa participação espontânea, alegre, activa, motivadora e paritária.

Há certamente muitas jovens que praticam desportos e ao mais elevado nível, como também de outras actividades culturais. Estarão provavelmente distantes da comunidade portuguesa e não utilizam as suas performances para atraírem e motivarem os mais novos para as práticas que dominam. Mas estas jovens podem ser agentes excelentes para as dinamizarem nas Associações portuguesas e que importa aproveitar.

Consequentemente, estes espaços ficariam enriquecidos com a presença constante das novas gerações e de novas actividades, que arrastariam os amigos e potencializariam cada vez mais estes magníficos espaços portugueses espalhados pelo mundo.

Importa que as suas Direcções consciencializem a importância destes contributos, que irão dar continuidade ao contributo notável que têm dado para a concretização de um processo globalizante de interpretações sociais neste meio privilegiado onde se estabelece um diálogo intercultural, alicerçado no fortalecimento dos seus próprios valores culturais que tão bem sabem preservar.


BIBLIOGRAFIA

BORDIEU,P. (1999). A Dominação Masculina. Oeiras: Celta Editora.

FOX, R.K. (1998). Advances in Measurement of the Physical Self. In. J.L, Luda (Ed.), Advances in Sport and Exercise Measurement. Morgantown: Fitness Information Technology

MERLEAU-PONTY, M. (1945). Phenomenologie de La Perception. Paris : Gallimard.

SOUSA GUEDES, M.G. (1995). O Papel do Folclore na Aculturação dos Povos; os portugueses no mundo. Actas do Encontro Mundial de Mulheres Migrantes – Gerações em Diálogo. Espinho: Março de 1995.

SOUSA GUEDES, M.G. (2005). As Mulheres Portuguesas em Movimento. Encontros para a Cidadania: a igualdade entre homens e mulheres nas comunidades portuguesas - Argentina. Buenos Aires, Novembro de 2005.

SOUSA GUEDES, M.G. (2006). A não igualdade entre géneros no Desporto. Encontros para a Cidadania: a igualdade entre homens e mulheres nas comunidades portuguesas - Europa. Estocolmo, Março de 2006.



Graça Guedes
Espinho, Novembrol de 2011






























A MULHER E O DESPORTO
as portuguesas no diálogo intercultural


Prof. Doutora Maria da Graça Sousa Guedes
Professora Catedrática do ISCS-N
gracaguedes@net.sapo.pt


INTRODUÇÃO


O comportamento social da mulher e o desenvolvimento dos mecanismos responsáveis pelo seu ajustamento, ocorre em função da cultura, que parece funcionar como elemento determinante do seu bem–estar.

A auto-estima e o auto-conceito da mulher ocidental, reflecte o efeito de uma forte influência social, agindo como fonte de possíveis desajustamentos ou de conflitos interpessoais, com repercussões na sua imagem corporal e na sua saúde mental.

As diferenças de género, bem impressas nas estruturas sociais e mentais (Bordieu, 1996), potenciam-se ainda hoje no âmbito da Actividade Física e do Desporto.

E a Escola, forja das novas gerações, considerando a pluralidade cultural que caracteriza o Desporto, tem vindo gradativamente a propiciar práticas de Actividade Física, não só na disciplina de Educação Física ministrada ao longo de todo o ensino Básico e Secundário, como também no Desporto Escolar, favorecendo assim a auto-estima e a competência, qualquer que seja o género, balizando criar uma Cultura Motora que favoreça a inclusão de práticas corporais no seu quotidiano que devem permanecer ao longo das suas vidas.

A confirmar esta mudança nos curricula escolares que valoriza a área do Desporto, serão apresentados estudos que revelam a participação dos jovens e das jovens portuguesas em actividades desportivas extra-curriculares. Contrariando este fomento do desporto na escola, a comunicação social desvaloriza o Desporto feminino, tal como se demonstrará em estudos realizados.

Num diálogo intercultural, as mulheres e as jovens da diáspora portuguesa têm utilizado actividades corporais em forma de DANÇA, que é dinamizada nas Associações portuguesas espalhadas pelo mundo.

Dançando o nosso património cultural, preservam-no, valorizam-no e divulgam-no, numa participação espontânea, alegre, activa, motivadora e paritária, que importa não ser interrompido pelas novas gerações.

Para que os jovens e as jovens de origem portuguesa continuem a desempenhar este papel, é necessário providenciar motivações, com actividades adequadas e atractivas, para que frequentem estes espaços portugueses e continuem o papel desempenhado pelos seus pais, com igual dinamismo e vontade de preservar a língua e a cultura portuguesa.




• Directora do Departamento de Ciências do Desporto do ISCS-N
Presidente da Assembleia Geral do Sporting Clube de Espinho
Vice-Presidente da Assembleia Geral do Orfeão de Espinho

CORPORALIDADE VERSUS GÉNERO FEMININO


Na grande maioria das sociedades humanas, existe um desequilíbrio entre géneros: a mulher percepciona-se inferior ao homem no desempenho de papéis socialmente determinantes, ocasionando conflitos que interferem na sua auto-estima.

Segundo Fox (1998), é com frequência que as mulheres não têm confiança nas suas habilidades, quando se comparam com os homens, pelo que interfere na sua auto-confiança e na relação com o seu corpo, bem como nas expectativas das suas eficácias no Desporto.

A auto-estima e o auto-conceito da mulher ocidental, reflecte o efeito de uma forte influência social, seguido como fonte de possíveis desajustamentos ou de conflitos interpessoais, com repercussões na sua imagem corporal e na sua saúde mental.

É cada vez maior o número de mulheres que recorrem à prática de actividades físicas, com a finalidade de encontrarem o seu bem-estar psicológico e assim combaterem os efeitos de conflitos internos e de pressões causadas pelo modelo social, que se traduzem em ansiedade, depressão, folias, alterações negativas de humor, do auto-conceito e de auto-estima.

As diferenças de género, que estão bem impressas nas estruturas sociais e mentais (Bordieu, 1996), parecem potenciar-se no âmbito de Actividade Física e do Desporto.

Verifica-se o desenvolvimento de atitudes preconceituosas e de estereótipos de género, que são limitadores na construção de feminilidade e de masculinidade. Incutem, subtilmente, a ideia de uma imagem hegemónica masculina, expressa num padrão legítimo de masculinidade (Botelho Gomes et al., 2002)

Ora é a Escola, forja das novas gerações, que tem de respeitar e de implementar os princípios de equidade, que assegurem justeza e justiça no processo educativo, dispondo para tal da pluralidade cultural que caracteriza o Desporto, mas que e segundo Thoberge (1991), mantém uma irrisória mentalidade na construção dos géneros.

Esta falha relativamente à importância do Desporto, lidando com os alunos e as alunas da mesma maneira, numa errónea suposição de que assim se atinge a justiça e a igualdade de oportunidades, tem inquinado a Educação, muito embora as novas políticas evidenciem um gradativo aumento da valorização da Educação Física e do Desporto, agora obrigatória ao longo de todo o ensino Básico e Secundário.

A Actividade Física e o Desporto devem propiciar a auto-estima e a competência, mas percebida pelos alunos e pelas alunas, de modo a que todos, não importa o género, vejam estas práticas corporais como actividades incluídas no seu quotidiano e a permanecer ao longo das suas vidas, razão pela qual é fundamental que tenham prazer ao praticá-las.

Hoje são consensuais as noções de que a actividade física regular assume um papel relevante na promoção de um estilo de vida saudável e de que níveis elevados de actividade de uma participação similar quando adultos. No entanto, a realidade portuguesa tem revelado uma fraca aquisição de hábitos desportivos, tanto nos homens quanto nas mulheres, sendo este quadro ainda mais preocupante no que se refere às mulheres (Marivoet, 1998), condicionando assim a sua qualidade de vida.

Num estudo desenvolvido por Marivoet (2001) sobre os hábitos desportivos da população portuguesa e realizado no concelho de Matosinhos (Quadro nº. 1), da qual foi seleccionada uma amostra constituída por 450 alunos, com idades compreendidas entre os 10 e os 15 anos, sendo 224 do género feminino (50,2%) e 226 do género masculino (49,8%), foi constatado que a maioria dos alunos (55,8%) são praticantes desportivos, para além das práticas nas aulas regulares de Educação Física, mas são sobretudo do género masculino (71,2%).


Quadro nº. 1 – Hábitos desportivos da população portuguesa

Praticantes Não Total
Praticantes
N % N % N %
Feminino 90 40,2% 134 59,8% 224 100%
Género
Masculino 161 71,2% 65 28,8% 226 100%


Total

251

55,8%

199

44,2%

450

100%


Há esperança de um novo rumo para a prática desportiva dos jovens, sobretudo se verificar a evolução registada num estudo desenvolvido no Instituto de Desporto de Portugal (Quadro nº. 2) e realizado por Adelino; Vieira & Coelho (2004), onde é comparada a percentagem de jovens, com idades compreendidas entre os 10 e os 16 anos que praticam desporto federado e com base nos censos populacionais de 1991 e de 2001.

Apesar desta evolução, é importante que os políticos desportivos e as instituições responsáveis pela sua aplicação, tomem as medidas necessárias para concretizar as intenções manifestadas na legislação portuguesa e nas cartas e acordos internacionais, de forma a que cada vez mais os cidadãos, independentemente o género, acedam ao Desporto.


Quadro nº. 2 – Praticantes de desporto federado (10 / 16 anos de idade)

Praticantes
1998
2004

Masculinos

Praticantes
91874
20,7%
109790 27,3&


Dados do Censo
444151


402646

Femininos
Praticantes 24885 5,9% 53358 9,2&


Dados do Censo 421930

384971


Total
Praticantes
116759
13,5%
145148
18,4%

Dados do Censo 866081 787617


Estas preocupações, que exigem mudanças de mentalidade e pressupõem legislação própria, sensibilizou já o Conselho da Europa.

Efectivamente, a Comissão sobre a Igualdade de Oportunidades para as Mulheres e os Homens da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, elaborou recentemente um documento redigido pela Dra. Manuela Aguiar e intitulado Descriminação contra as mulheres e jovens nas actividades desportivas, que constituiu a Recomendação 1701 (2005), discutida e aprovada por aquela Assembleia em 27 de Abril de 2005.

Esta recomendação partiu de dois grandes objectivos:

A – As mulheres são confrontadas com numerosas descriminações no acesso à prática desportiva amadora e profissional, que são contrários aos princípios do Conselho da Europa. A persistência de estereótipos, a falta de estruturas de enquadramento e de apoio às mulheres desportivas e às jovens dotadas de um potencial desportivo, a dificuldade de conciliar a vida profissional / desportiva e familiar, a difícil reinserção no mundo do trabalho, uma cobertura mediática insuficiente dos desportos praticados pelas mulheres e os financiamentos privados limitados, são manifestações destas descriminações.


B – A Assembleia Parlamentar deveria pedir ao Comité dos Ministros do Conselho da Europa para desenvolver um “Estratégia para as Mulheres e os Desportos”, para desigualmente promover a participação das mulheres e dos jovens em actividades desportivas desde a escola e ao longo de toda a vida, considerando a dimensão do género nas políticas do desporto, apoiar os desportos femininos e a prática do desporto de alta competição, favorecer a participação das mulheres nas instancias dirigentes e encorajar uma melhor cobertura mediática dos desportos femininos.

A MULHER, O DESPORTO E OS “MASS MEDIA”

Actualmente, as mulheres não só competem, como praticam todas as modalidades desportivas; obtêm também cada vez com melhores resultados.

No entretanto, a cobertura que os “mass media” efectuam no desporto feminino é significativamente inferior à efectuada no desporto masculino.

Diversos estudos realizados noutros países acerca da cobertura televisiva e dada pela imprensa escrita sobre o desporto feminino e masculino, revelam que o desporto feminino recebe pouca atenção, quando comparado com o masculino (Crossman et al; 1994; Duncan et al; 1994; Hargreaves, 1994; Lever & Wheeler, 1984).

Em Portugal, num estudo recente realizado por Pinheiro & Queiroz (2003), esta realidade é confirmada.

As autoras analisaram durante um mês dois jornais diários, um desportivo (A Bola) e um generalista (Jornal de Noticias), tendo excluído todas as referências ao futebol, a tabelas de resultados, a agendas desportivas, a artigos de opinião e a notícias breves.

Para a análise, elegeram as seguintes categorias: artigos/notícias e fotografias de atletas portuguesas e estrangeiros. Cada categoria foi dividida em sub-categorias: masculino (artigo ou foto), feminino (artigo ou foto) e misto. Posteriormente, cada uma das sub-categorias foi analisada em função do número de artigos/notícias e fotografias, do espaço físico ocupado, da sua colocação em cada página (topo, centro e baixo).

Quadro nº. 3 – Os mass media e o desporto versus género

Género A Bola Jornal de Notícias
Artigos Masculino
Feminino
Misto 334
72
32 225
31
17
Fotografias Masculino
Feminino
Misto 337
66
15 135
22
2


Quadro nº. 4 – Os mass media, o espaço físico das notícias versus género

Artigos/Fotos Jornal de Notícias A Bola
Género N Média SD N Média SD
Espaço físico
(cm2) Artigos masculinos 225 39,3848 32,9598 335 111,2550 49,7169
Artigos femininos 31 20,8497 16,7290 72 86,2736 53,2259
Artigos mistos
57,5612 52,5373 120,7000 65,5275
Espaço físico
(cm2) Fotografias masculinas 135 42,0467 50,7668 337 113,5469 93,3389
Fotografias femininas
22 24,9127 31,5451 66 109,9805 83,2288
Fotografias mistas
69,985 81,3385 120,4567 108,452
3


Quadro nº. 5 – Os mass media e a colocação dos artigos versus género

Artigos Fotografias
Masculinos Femininos Mistos Masculinas Femininas Mistas
Jornal de Notícias Topo N 76 17 3 51 9 1
% 27,8 6,2 1,1 32,1 5,7 0,6
Centro N 53 5 5 40 5 1
% 19,4 1,8 1,8 25,2 3,1 0,6
Baixo N 42 5 7 13 4
% 15,4 1,8 2,6 8,2 2,5
Centro/Topo N 34 4 1 23 4
% 12,5 1,5 0,4 14,5 2,5
Centro/Baixo N 20 1 8
% 7,3 0,4 5

Total N 225 31 17 135 22 2
82,4 11,4 6,2 84,9 13,8 1,3
A Bola Topo N 17 1 58 2 2
% 3,9 0,2 13,9 0,5 0,5
Centro N 17 5 1 43 7 2
%
3,9 1,1 0,2 10,3 1,7 0,5
Baixo N 69 30 8 67 14 4
% 15,8 6,8 1,8 16 3,3 1
Centro/Topo N 139 21 15 98 26 7
% 31,7 4,8 3,4 23,4 6,2 1,7
Centro/Baixo N 92 15 8 54 15
%
21 3,4 1,8 12,9 3,6

Total N 334 72 32 337 66 15
% 76,3 16,4 7,3 80,6 15,8 3,6


Os resultados apresentados nos quadros 3,4 e 5, revelam que se continua a verificar uma certa descriminação pela imprensa escrita, acompanhando a tendência detectada em outros estudos desenvolvidos em Inglaterra, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Finlândia.

Para Ducan et al. (1994), a pequena atenção dedicada ao desporto feminino, bem como a forma como são frequentemente tratados os atletas e também como são efectuados os comentários e a linguagem que é utilizada, tendem a reforçar a desigualdade entre géneros.

Tal como refere Gerbner (1978, cit in Boutellier & SanGiovanni, 1983: 185), a menor atenção dedicada ao desporto feminino constitui na realidade “… uma imaginação simbólica de mulher”. Os meios de comunicação social ajudam assim a veícular a ideia de que o desporto feminino não é tão importante quanto o masculino e, como tal, as mulheres atletas e as suas prestações desportivas não são merecedoras da mesma atenção que é dada à dos homens atletas.

Para além de continuarem a mostrar o Desporto como área essencialmente masculina, ajudam a perpetuar ideias estereotipadas de feminilidade e de masculinidade.

Uma maior abertura do desporto feminino na comunicação social, pode efectivamente ajudar a mudar estas ideias estereotipadas relativas ao envolvimento de mulher em práticas desportivas, bem como às ideias inerentes às suas habilidades motoras e, consequentemente, encorajar mais raparigas e mulheres para o desporto.

Com a maior divulgação pelos mass media, as várias mulheres atletas podem inclusivamente funcionar como modelos para as jovens e assim favorecer o aumento dos hábitos de práticas corporais da população feminina.

Todos os atletas, sejam homens ou mulheres, merecem a mesma atenção. Uma atenção equilibrada, já que as relações entre géneros no desporto, assim como em qualquer outra prática social, são relações de poder (Hargreaves, 1994).

A MULHER DA DIÁSPORA PORTUGUESA E O DIÁLOGO INTERCULTURAL

O associativismo na diáspora portuguesa constituiu uma forma de conjugar indivíduos com interesses ou gostos análogos, que tem favorecido a implementação de objectivos comuns: convivência social, prossecução de práticas culturais, recreativas e desportivas, para além da defesa de interesses nos centros de saúde, do trabalho, das condições de vida, da política (Guedes, 1995).

As Associações portuguesas espalhadas pelo mundo, podem efectivamente ser consideradas como um processo globalizante de interpretações sociais e um meio privilegiado para o estabelecimento de um diálogo intercultural, que se alicerça no fortalecimento dos seus próprios valores culturais.

O elevado número de associações que abrange todos os continentes, reflecte a espontânea necessidade em manter e cultivar a sua própria identidade, de forma a criar mecanismos próprios para defesa dos seus interesses, bem como para manifestar uma presença activa no país de acolhimento.

Nestes espaços de convívio que os portugueses criaram em todo o mundo e que se destinam à sua sobrevivência cultural, são desenvolvidos diferentes tipos de actividades. Pode haver algumas diferenças, dependentes das suas motivações, mas em quase todas elas há Desporto e há Folclore.

Tive a oportunidade de conhecer grande parte delas e de trabalhar com os Grupos de Folclore, reconhecendo um empenho extraordinário de todos e uma vontade de melhorar e aumentar os seus reportórios, que reflectiam uma Cultura Motora que recorria às suas memórias.

No Encontro Mundial de Mulheres Migrantes, realizado em Espinho em 1995, apresentei um estudo que realizei acerca do papel do Folclore na aculturação dos povos, no qual foram quantificados os grupos então existentes nas Associações e distribuídos pelos continentes (Quadro nº. 6).


Haverá provavelmente alguma alteração nestes valores e que valerá a pena actualizar, uma vez que estão decorridos dez anos. E, complementarmente, conhecer mais acerca das modalidades desportivas existentes, quantidade de participantes envolvidos e distribuídos em função do género e idade.


Quadro nº 5 - Grupos de Folclore nas Associações Portuguesas

CONTINENTES ASSOCIAÇÕES GRUPOS DE FOLCLORE
EUROPA
1057 446
ÁFRICA
100 22
AMÉRICA DO NORTE
448 94
AMÉRICA CENTRAL E DO SUL
289 74
TOTAL
1894 636
Guedes, 1995


As danças, assim como cantares, constituem um património cultural extremamente rico e diversificado, com o qual os portugueses da diáspora se identificam e se formam agentes de preservação das suas tradições.

Interpretam-nas com um grande prazer e orgulho, na certeza de estarem a contribuir para que sejam mantidas vivas as suas raízes e, consequentemente, fortalecerem o diálogo entre os dois universos que os condicionam.

E nelas podem participar todos, não importa a idade e o género. Mesmo quando não dançam, fazem parte dos coros ou dos grupos instrumentais que as acompanham.

O Folclore, é efectivamente praticado em quase um terço das Associações. E, porque as danças portuguesas são caracterizadamente realizadas aos pares, há necessariamente uma participação com paridade entre géneros.

Para além destas práticas corporais constituírem um celeiro de novas sementes, que fertilizam a dinâmica corporal expressa em dança, há também relações de género.

Há educação estética, como processo formativo do ser humano, mas também como processo de abertura e de ampliação das capacidades de sinalização para aceite, em relação ao outro (género) e em relação ao mundo (educação) que não pode ser desvalorizado nem interrompido, com uma participação cada vez maior e atractiva para os mais novos.

No Desporto, a participação feminina não será significativa, não porque tenham sido levantados dados relativos a este tipo de envolvência, mas por conhecimento pessoal obtido nas visitas às Associações.

As jovens e as mulheres portuguesas dançam o nosso património cultural, preservando-o e divulgando-o, numa participação espontânea, alegre, activa, motivadora e paritária.

Há certamente muitas jovens que praticam desportos e ao mais elevado nível, como também de outras actividades culturais. Estarão provavelmente distantes da comunidade portuguesa e não utilizam as suas performances para atraírem e motivarem os mais novos para as práticas que dominam. Mas estas jovens podem ser agentes excelentes para as dinamizarem nas Associações portuguesas.

Consequentemente, estes espaços ficariam enriquecidos com a presença constante das novas gerações e de novas actividades, que arrastariam os amigos e potencializariam cada vez mais estes magníficos espaços portugueses espalhados pelo mundo.

Para tal, importa que as suas Direcções consciencializem a importância destes contributos, que irão dar continuidade ao contributo notável que têm dado para a concretização de um processo globalizante de interpretações sociais neste meio privilegiado onde se estabelece um diálogo intercultural, alicerçado no fortalecimento dos seus próprios valores culturais.

CONCLUSÃO

Apesar de ser cada vez maior o número de mulheres que recorrem à prática de actividades físicas, com a finalidade de encontrarem o seu bem-estar psicológico, a sociedade portuguesa é ainda hoje impressa de atitudes preconceituosas e de estereótipos de género, que são limitadores de uma prática desportiva feminina mais dinamizada, diversificada e divulgada.

Na Escola, que deve respeitar a pluralidade da cultura que caracteriza o desporto, mas aonde há ainda uma ilusória neutralidade na construção dos géneros, tudo deve ser feito para que a actividade física e o desporto propiciem a auto-estima e a competência, percebida pelos alunos e pelas alunas, de modo a que todos vejam estas práticas corporais como actividades incluídas no seu quotidiano e que devem permanecer ao longo das suas vidas.

Também uma maior cobertura do desporto feminino na comunicação social, que é significativamente inferior à efectuada no desporto masculino, poderá ajudar mudar as ideias estereotipadas relativas ao envolvimento das jovens e das mulheres em práticas desportivas, bem como às ideias inerentes às suas habilidades técnicas e, consequentemente, encorajar mais raparigas e mulheres para o desporto.

Nas Associações, esses espaços de convívio que os portugueses criaram em todo o mundo e que se destinam à sua sobrevivência cultural, são desenvolvidos diferentes tipos de actividades, onde o desporto e o folclore são uma constante.

Se, no desporto, a participação feminina não será significativa, no folclore há paridade de géneros, na medida em que as danças portuguesas que praticam são realizadas aos pares, tal como é caracterizada a dança tradicional portuguesa.

As jovens e as mulheres portuguesas dançam o nosso património cultural, preservando-o e divulgando-o, numa participação espontânea, alegre, activa, motivadora e paritária.


Há certamente muitas jovens que praticam desportos e ao mais elevado nível, como também de outras actividades culturais. Estarão provavelmente distantes da comunidade portuguesa e não utilizam as suas performances para atraírem e motivarem os mais novos para as práticas que dominam. Mas estas jovens podem ser agentes excelentes para as dinamizarem nas Associações portuguesas.

Consequentemente, estes espaços ficariam enriquecidos com a presença constante das novas gerações e de novas actividades, que arrastariam os amigos e potencializariam cada vez mais estes magníficos espaços portugueses espalhados pelo mundo.

Importa que as suas Direcções consciencializem a importância destes contributos, que irão dar continuidade ao contributo notável que têm dado para a concretização de um processo globalizante de interpretações sociais neste meio privilegiado onde se estabelece um diálogo intercultural, alicerçado no fortalecimento dos seus próprios valores culturais.

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