As singularidades da Associação MULHER MIGRANTE
1 - A "Mulher Migrante - Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade" (AMM) está aberta a todos os que se dedicam ao estudo do fenómeno migratório ou se propõem combater as desigualdades e discriminações, que atingem, de forma especial, as mulheres migrantes e as minorias étnicas.
Sua divisa: "Ninguém é estrangeiro numa sociedade que vive os direitos humanos". Objetivo principal: aprofundar o conhecimento de realidades variáveis de comunidade para comunidade da emigração, aproximar essas comunidades entre si, promover as condições para a cidadania plena, em cada uma delas.
Na lista das suas singularidades, destacaremos: o ter nascido voltada para a Diáspora feminina, a partir do país; o não ser uma associação feminina, mas mista; o reconhecer, antes de uma história própria, a importância inspiradora de uma "pré-história".
De facto, a ideia de constituir uma organização internacional de mulheres antecedera em quase uma década a fundação da AMM. Surgira em 1985, durante o "1º Encontro de Mulheres Portuguesas no Associativismo e no Jornalismo", promovido pela Secretaria de Estado da Emigração, na cidade de Viana. Esse congresso de mulheres migrantes, absolutamente pioneiro em termos europeus, e, tanto quanto se sabe, universais, dava cumprimento a uma recomendação do Conselho das Comunidades Portuguesas subscrita pela jornalista Maria Alice Ribeiro, de Toronto, uma das primeiras conselheiras a nele ter assento. O "Conselho", órgão de consulta do governo, formado por representantes do movimento associativo e dos "media" das comunidades, espelhava, então, fielmente a marginalização feminina em cada associação - membro, e era exclusivamente masculino, com a exceção de duas jornalistas, do Canadá e de França.. ...
O Encontro de 1985, reunindo cidadãs envolvidas no associativismo e no jornalismo, constituiu, na verdade, uma espécie de "Conselho das Comunidades no feminino". Foi um acontecimento memorável, por ter ultrapassado, em qualidade de reflexão e propostas, as expetativas mais positivas, e, sobretudo, por ter consubstanciado o nascimento às políticas de género para a emigração. Políticas que só viriam a ser desenvolvidas, sistematicamente, duas décadas depois.
2 - As congressistas, que haviam transformado uma inesperada oportunidade num êxito absoluto, não conseguiram, porém, nos anos seguintes, lançar a sua ambicionada e ambiciosa rede internacional. Em 1993, perante a ausência de políticas públicas para a a igualdade na emigração, assim como de iniciativas das comunidades, algumas das participantes e das organizadoras do mítico "Encontro de Viana" decidiram instituir a AMM, ONG destinada a colocar na ordem do dia as questões da emigração feminina e a repensar o papel das mulheres na Diáspora. Como começar (ou recomeçar) essa tarefa? Com um grande congresso mundial, evidentemente! E onde? Em Espinho, onde éramos residentes duas das "guardiãs" da memória do" Encontro de Viana", e, nessa veste, fundadoras da jovem associação - Graça Guedes, antiga Diretora do Centro de Estudos da Secretaria de Estado da Emigração e eu, ao tempo responsável por esse pelouro governamental . Avançámos com a candidatura da nossa cidade, logo aceite consensualmente. Aqui reunimos cerca de 300 personalidades dos cinco continentes. O Encontro Mundial de Espinho, sob o lema "Diálogo de Gerações". foi , até hoje, o maior de todos quantos houve. E conferiu à AMM a credibilidade bastante para se converter em parceira de sucessivos governos no esforço de promover a paridade na vida das comunidades do estrangeiro.
A colaboração mais estreita situou-se na que podemos chamar uma "década de ouro" na defesa ativa da igualdade, por governos sucessivo, entre 2005 a 2015. Iniciou-se com os " Encontros para a Cidadania" presididos nos vários continentes pela Dr.ª Maria Barroso, prosseguiu com os Encontros Mundiais de 2011 e 2013, em Portugal, e com os colóquios para a igualdade, realizados em diversos países de emigração, em 2012, 2014 e 2015 - todos organizados pela AMM, em estreita cooperação com a Secretaria de Estado das Comunidades. Cooperação que, de modo menos sistemático, mas com o mesmo espírito, se vem mantendo ininterruptamente.
3 - A AMM, como disse, não seguiu o modelo de associação feminina, que é, na Diáspora, o dominante na prossecução de finalidades semelhantes. No estrangeiro, foi sempre mais fácil às mulheres terem visibilidade e influência à frente das suas próprias coletividades do que no associativismo misto, no interior do qual só em anos recentes começaram a aceder aos lugares de direção. Onde, note-se, são ainda uma minoria.
Todavia, a nível da AMM, já em 1993, as circunstâncias eram diferente. A nossa ligação afetiva ou profissional à problemática da emigração fazia-se a partir da investigação universitária, do serviço público, do jornalismo, de uma visão humanista/feminista de combate às discriminações em razão de sexo, etnia ou de quaisquer outros retrógrados preconceitos. Formávamos um círculo onde mulheres e homens que partilhavam pontos de vista e preocupações. Como dizia um dos pioneiros, o Comendador Luís Caetano, ainda hoje o representante da AMM no Uruguai: "Não é preciso ser jovem para tentar resolver os problemas dos jovens, não é preciso ser idoso para compreender e apoiar os mais velhos. E não é preciso ser mulher para lutar pela igualdade".
Todas, todos nós queremos não dois associativismos paralelos, o masculino e o feminino, mas um só (ainda que para aí chegar possam ser necessários organizações somente femininas). A nossa meta é a mesma - um mundo mais justo e mais igualitário, em que cada ser humano se possa realizar inteiramente - os estrangeiros, as mulheres, que sem direitos iguais, são como que estrangeiras na sua comunidade ou no seu próprio país!
Só mais uma palavra, para referir uma outra singularidade, ainda que involuntária: a presença de Espinho nas origens da AMM e ao longo de uma vida já longa. Neste seu 25.º ano, são de Espinho as presidentes de todos os órgão sociais - Direção (Arcelina Santiago), Assembleia Geral (eu mesma) e Conselho Fiscal (Ester Sousa e Sá), mais a Secretária-geral (Graça Guedes). Num momento difícil foram as que disseram "sim" à segunda vida da AMM. Arcelina Santiago acaba de ser eleita para suceder a Rita Gomes, saudosa amiga, líder histórica da AMM, ao longo do último quarto de século..
De Espinho, em conjunto com associados dos cinco continentes, procuraremos refletir e agir no campo das migrações. Na cidade o "Núcleo" cresce - o mais recente dos inscritos é o Dr. Lúcio Alberto.
Somos, assim, também, um exemplo de boas práticas, em matéria de descentralização de iniciativas, competências e poderes, à partida centrados na capital da República.
ASSOCIAÇÃO MULHER MIGRANTE – UM MODELO DE CIDADANIA
Graça Sousa Guedes
Professora Catedrática Aposentada da Universidade do Porto
Secretária Geral da AECSMM
É normal pensar que POLÍTICA significa governo dos homens, administração das coisas e direção dos Estados.
Mas este conceito é muito mais lato e abrangente.
Pode ser considerado Arte, Ciência, Ideologia, Filosofia, Ética, Metafísica, Teologia, com diferentes níveis, dimensões e aspetos, que se interligam ou dialeticamente se postulam. O problema reside em saber o que é que verdadeiramente se encontra unido.
Porque POLÍTICA releva da intuição criadora, do juízo teórico-prático, da perceção das mediações necessárias entre quem governa e a comunidade que é governada, releva também dos diversos corpos que constituem o universo social e estatal que se relacionam com as aspirações que polarizam a vida dos Homens.
E, assim sendo, POLÍTICA é um FAZER e, sobretudo, um AGIR.
Esta perspetiva é aliás já muito antiga e inspirada em Aristóteles, que assim define Política: … uma espécie de savoir-faire, de que nem a sensibilidade nem a imaginação podem estar ausentes, embora a prioridade seja atribuída à racionalização tecnológica e à reflexão crítica.
POLÍTICA será um ponto de focagem de um campo larguíssimo de relações entre governantes e governados; entre as Instituições e a vida real; entre as partes e o todo. E, todos nós, somos a parte deste todo!
Embora lhe estejam normalmente associadas questões ideológicas e partidárias, teremos de pensar sobretudo em CIDADANIA, que deverá nortear os nossos comportamentos e os nossos relacionamentos, qualquer que seja a idade, o género, a etnia, a religião; qualquer que seja o contexto onde possamos estar inseridos.
Comecei assim a minha comunicação no II Encontro de Mulheres em Movimento, que aconteceu em Espinho, na Biblioteca Municipal José Marmelo e Silva, organizado pela Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade Mulher Migrante em Outubro de 2012 e intitulada Universidade, Política e Cidadania.
Com base neste minha reflexão, julgo poder afirmar que a nossa Associação pode bem ser definida como um ato de CIDADANIA, expressa nas diversas singularidades que a caraterizam e que tão bem estão agora explicadas neste Jornal pela Drª. Manuela Aguiar, como também de todas quantas nela se têm envolvido.
Não há estrangeiros numa sociedade que vive os direitos humanos é o seu lema, concretizado na multiplicidade de eventos (mundiais, internacionais e nacionais) realizados ao longo de 25 anos em Portugal, na Europa, na América do Norte e do Sul, em África e muitos dos quais estão relatados em publicações que editamos.
A ideia colocada em 1985, no 1º Encontro de Mulheres Portuguesas no Associativismo e Jornalismo, realizado em Viana do Castelo e onde estive presente, transformou-se em sonho... , mas que logo se foi tornando realidade pela mão da então Secretária de Estado da Emigração, Drª. Manuela Aguiar com a realização de diversos eventos; após a sua saída do governo, com a fundação da Associação Mulher Migrante.
Com sede em Lisboa e mais de uma centena de sócias e sócios em Portugal e no estrangeiro, sempre demos preferência a Espinho para a realização de muitos dos nossos eventos, de entre os quais tenho orgulho em destacar os dois Encontros Mundiais: em 1995 e em 2013. O terceiro Encontro Mundial, em 2011, foi em Lisboa, no Palácio das Necessidades.
Sendo agora espinhenses todas as presidentes dos órgãos sociais, bem como a secretária geral, tudo será mais fácil para utilizarmos Espinho como palco de muitas das nossas organizações.
Haja apoio, porque a vontade permanece.
Mulher Migrante – Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade ( AMM)
Como foi integrar-me nesta Associação tão singular
Um dia, penso que em janeiro de 2009 , a Dra Graça Guedes, então Presidente da Assembleia a Municipal de Espinho e também Secretária Geral da AMM telefonou-me para me convidar a participar numa reunião de preparação do Encontro promovido pela AMM, com o patrocínio da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género que iria ter lugar em Espinho nos dias 6 e 8 de Março. Na verdade, apesar de estarmos separadas em termos de posicionamento político, dado que eu era deputada municipal da oposição, reconheci, reconhecemos seguramente que havia mais pontos que nos uniam do que aqueles que nos separavam: a defesa dos direitos humanos, em particular o das mulheres, as questões da emigração, do associativismo e o movimento da diáspora. Aceitei o desafio. Fazer parte da organização deste encontro foi uma surpresa muito interessante. Tive o privilégio de conhecer melhor a Dra Graça Guedes e privar com outra mulher fantástica, fundadora desta Associação e com uma visibilidade notável pela sua ação extraordinária a nível nacional e internacional principalmente pelo seu papel enquanto Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas que tanto orgulhava todos os portugueses, mas mais ainda os espinhenses que acompanhávamos, de perto, a sua intensa ação- a Dra Manuel Aguiar!
Esse Encontro constituiu o encerramento dos Encontros para a cidadania - Igualdade entre Homens e Mulheres nas comunidades Portuguesas realizados de 2005 a 2008 e simultaneamente iniciou a comemoração dos 15 anos de atividades da Associação Mulher Migrante. Foi assim o começo. Os anos seguintes, foram de muito trabalho e cumplicidade, sempre na defesa destas causas. Anos de aprendizagem e de vivências muito intensas.
Destaco entre tantas iniciativas as que Espinho protagonizou, com destaco para “ As Mulheres da República” organizado pela Dra Manuela, enquanto vereadora da Cultura da Câmara de Espinho, onde algumas mulheres ganharam protagonismo merecido, caso de Carolina Beatriz Ângelo, Adelaide Cabete ou ainda Ana de Castro Osório, figuras representadas por alunas da fantástica Escola Domingos Capela. Seguiram-se as homenagens a Maria Lamas, a Maria Archer. Para Maria Archer, criei um guião com base em diversas fontes sobre a jornalista e escritora, denunciadora das condições das mulheres e defensora dos seus direitos e, por isso, remetida ao exílio. Essa entrevista imaginária foi replicada muitas vezes em várias iniciativas da AMM, dramatizados pelas espinhenses Mariana Patela e Inês Pais.
Depois, acontece o Encontro Mundial em Lisboa e, mais tarde, os vários colóquios em Espinho e Gaia e, ultimamente, em Monção sobre “Expressões de cidadania no feminino” e ainda este ano, em abril o “ Colóquio Portugal Brasil - a descoberta continua a partir de Monção”. Há, na verdade, uma estreita parceria com a Câmara Municipal de Monção e as Escolas, em particular a EPRAMI (Escola Profissional do Alto Minho Interior) nossos parceiros nesta caminhada de causas. Com as Escolas e a Universidade Sénior há um trabalho de continuidade com a iniciativa da AMM – Os Ateliês da Memória , na recuperação da identidade da emigração, muito presente nesta região minhota, para ao Brasil e para França. Há desejos de organizar quanto antes o Museu Virtual da Emigração.
Juntas, organizamos também as revistas anuais da AMM e envolvemo-nos em iniciativas nas quais me identifiquei não apenas pelas causas, mas pelo estilo e metodologia de trabalho desta singular Associação em que cada um/uma tinha e tem a sua voz presente e ativa.
Foram tempos de intensa aprendizagem, especialmente ligada a estas duas mulheres tão inspiradoras – Manuela Aguiar e Graça Guedes. Já fiz parte da direção anterior e, em agosto fui escolhida para integrar uma nova lista da direção. Substituí a Dra Rita Gomes, a nossa saudosa Presidente que no ano de celebrarmos os 25 anos da AMM nos deixou para sempre. Seguir para a frente com o projeto, continuar a missão seguindo os desígnios da AMM será uma forma de a homenagear e dar continuidade aos 25 anos de trabalho desenvolvido - um diálogo contínuo entre o estudo e o trabalho no terreno, junto das comunidades, um trabalho de cooperação e de solidariedade. E, neste ano de celebração, de homenagem e agradecimento de todas e todos os associados, é também tempo de reflexão sobre um longo percurso, de intenso trabalho em defesa dos direitos humanos já a pensar no futuro. Seguir e honrar o lema desta Associação "Ninguém é estrangeiro numa sociedade que respeita os direitos humanos " continua a estar sempre presente a lembrar-nos que há muito caminho por fazer...
Estou certa de que dar continuidade ao trabalho, à missão desta Associação, será a melhor homenagem que poderemos prestar à Dra Rita Gomes. Como sua sucessora na Presidência da AMM, espero, com a ajuda de todas/os associadas/os, estar à altura de desempenhar esse papel e dar continuidade ao excelente trabalho que tem sido desenvolvido pela Associação.
O nosso plano de atividades para 2019 está a ser preparado com muito cuidado, envolvendo muitos parceiros e espalhado por muitos locais: Monção, Espinho, Gaia, Porto, Lisboa, e ainda outros mais, tendo como objective mobilizar a sociedade em geral para as questões dos direitos humanos, com enfoque especial para as mulheres, da lusofonia e, em especial, da emigração, Vamos neste ano, centrar a nossa ação nos jovens venezuelanos e na sua integração. Sabemos que em Gaia e Espinho há um número muito significativo a merecer especial atenção.
Para mim é um orgulho e uma grande responsabilidade integrar esta missão que tem, em Espinho, expressão máxima com a representação de mulheres envolvidas nestas causas e na liderança da Associação.