Deolinda M. Adão, PhD
University of Califórnia, Berkeley
Desde meados do século XIX que imigrantes portugueses chegam ao Oeste dos Estados Unidos em Geral, e particularmente à Califórnia. De acordo com decimo sexto recenseamento dos Estados Unidos, em 1850, viviam 177 portugueses na Califórnia (um deles do sexo feminino), no princípio do século XX esse número tinha aumentado para 15,583, e em 1930 o número de portugueses residentes na Califórnia tinha atingido 30,224.[1] Conforme o número de imigrantes portugueses crescia, estes começaram a sentir a necessidade de estabelecerem organizações fraternais que assistissem os seus sócios em caso de doença ou morte. A primeira associação fraternal a ser fundada na Califórnia foi a Associação Portuguesa de Beneficência da Califórnia, que foi fundada em São Francisco em 1868[2] por um grupo de mais de 30 homens. Este foi o nascimento do movimento fraternal português na Califórnia.
Durante os últimos 140 anos, este movimento tem passado por várias alterações e hoje é representado por um grupo de organizações fraternais que, maioritariamente, proporcionam seguros de vida aos seus sócios assim como um espaço para intercâmbio social. Tal como tinha sido o caso da Associação Portuguesa de Beneficência da Califórnia, a maioria das associações fraternais portuguesas foram fundadas por homens e associação às mesmas estava restrita ao sexo masculino. No entanto, ao fim de pouco tempo, as mulheres começaram a sentir a necessidade de se associarem de uma forma similar, e a fins do século XIX, foram fundadas pelo menos duas associações exclusivamente femininas.
A intenção deste trabalho é examinar algumas das sociedades fraternais presentemente em existência na Califórnia, e analisar o seu desenvolvimento, com um enfoque particular na contribuição da participação feminina para o crescimento de cada uma delas. Quer a sociedade tenha ou não permitido associação feminina desde a sua fundação, é indiscutível, que a participação feminina foi um elemento importante no crescimento de todas as sociedades fraternais Portuguesas na Califórnia. Portanto, este trabalho considera a extensão e a importância da participação feminina, e conclui fazendo uma consideração sobre o futuro da representação feminina nas cinco sociedades fraternais portuguesas que considerámos, ou seja:
IDES – Irmandade do Divino Espírito Santo do Estado da Califórnia (1889)
Luso-American Life Insurance Society (1868)
S.P.R.S.I. – Sociedade Portuguesa Rainha Santa Isabel
U.P.E.C. – União Portuguesa do Estado da Califórnia (1876)
U.P.P.E.C. – União Portuguesa Protectora do Estado da Califórnia (1901)
É interessante notar que a cronologia de fundação das diversas sociedades está distribuída pelas últimas quatro décadas do Século XIX, e que a data em que a última foi fundada (1901) ocorreu justamente no princípio do Século XX, ou seja, há mais de um século, para nós, que vivemos a primeira década do Século XXI. Esta dinâmica tricentenária é mais do que um firme testemunho ao vigor das sociedades fraternais na Califórnia, pois é também um claro sinal da sua relação com as comunidades Luso-Americanas de este estado. Parece relevante mencionar, que as duas sociedades exclusivamente femininas foram as últimas a ser fundadas, precisamente no momento de transição secular, e que, como é ilustrado na conclusão, as novas gerações que vivem a presente transição de século e de milénio, estão a lidar com as questões de género de uma forma mais igualitária. Para além de provocar reflexão sobre as tendências sociais de cada um destes momentos históricos, esta coincidência é uma clara indicação do papel que as mulheres têm desempenhado, e continuam a desempenhar, no dinâmico movimento de solidariedade social e afirmação cultural representada pelas sociedades fraternais Luso-Americanas na Califórnia.
Infelizmente, não me foi possível incluir neste estudo uma abordagem aprofundada da Sociedade do Espírito Santo (SES) fundada em Dezembro de 1895 e sedeada na cidade de Santa Clara, Califórnia. Esta sociedade inicialmente fundada por um grupo exclusivamente masculino com o intuito de organizar uma festa em louvor ao Divino Espírito Santo, foi registada a 18 de Janeiro de 1896 com o nome de Sociedade do Espírito Santo Beneficiente de Santa Clara, e teve como primeiro presidente Supremo o Sr. José Soares. Durante os primeiros anos a sociedade teve um crescimento modesto e as suas actividades limitavam-se à celebração anual em louvor ao Divino Espírito Santo assim como outras actividades religiosas e sociais. Embora a sociedade não aceitasse sócios femininos, no caso de morte da esposa de um dos sócios, o mesmo tinha direito a receber 50 cêntimos de cada membro da sociedade. Em caso de morte de um dos sócios a respectiva viúva tinha direito a um subsídio de um dólar por sócio. Segundo os anais desta sociedade, em 1903, já a sociedade proclamava como rainha da sua Festa anual, uma jovem, normalmente filha ou neta de um dos sócios. Nesse mesmo ano de 1903, durante a sua reunião anual, foi decidido que qualquer pessoa filha de pais católicos e entre as idades de 15 a 35 anos poderia associar-se à Sociedade do Espírito Santo. Assim, a SES foi a primeira sociedade fraternal, excepto as exclusivamente femininas, a aceitar mulheres como sócias. Por falta de acesso aos arquivos da sociedade não me foi possível determinar o início de representação feminina do corpo administrativo da sociedade, no entanto o primeiro Presidente Supremo da Juventude (Junior Supreme Presidente) da sociedade foi a jovem Bernadette Oliveira que assumiu essa posição em 1987. Presentemente, oito dos treze oficiais executivos são mulheres, mas a representação feminina na Directoria da sociedade limita-se a apenas dois dos nove Directores Supremos. Tendo em conta que na SES é sobre a Directoria que cai a responsabilidade administrativa da sociedade, cabendo aos oficiais executivos maioritariamente funções fraternais e de secretária, podemos concluir que a administração desta sociedade continua maioritariamente em mãos masculinas. Parece-nos relevante notar que no que se refere a administração da vertente juvenil da sociedade as tendências parecem inverter-se pois em ambos corpos directivos Oficiais Executivos e Directores Supremos apenas dois dos doze cargos são ocupados por jovens do sexo masculino. Da mesma forma, trinta e quatro dos quarenta e oito “District Deputies” são mulheres. Nesta sociedade os Distric Deputies são responsáveis pela angariação de novos sócios para a sociedade em cada um dos conselhos locais espalhados pelo Estado da Califórnia. Esta representação parece indicar uma concentração masculina ao nível administrativo da sede da sociedade, e uma prevalência feminina nos corpos directivos das estruturas locais da mesma.
IDES – Irmandade do Divino Espírito Santo do Estado da Califórnia (1889)
A IDES foi informalmente fundada a 7 de Julho de 1889 por um grupo de imigrantes Portugueses que concordaram em adoptar um sistema dentro do qual, pela ocasião da morte de um dos sócios, se realizava uma angariação de fundos, para assistir com os custos inerentes aos serviços fúnebres, assim como aliviar a crise financeira da família em questão. Ficou determinado que cada sócio contribuiria com um dólar para essa angariação que revertia a favor da viúva e dos filhos do sócio defunto. Dois anos mais tarde, a 9 de Julho de 1891, a sociedade foi formalmente fundada na ocasião da sua primeira reunião geral de sócios à qual compareceram 12 sócios. O Sr. Manuel Silveira Peixoto, foi eleito pelos presentes como o primeiro Presidente Supremo da sociedade. Desde o momento da sua fundação associação à IDES estava limitada a pessoas do sexo masculino, e não foi até 1964 que na septuagésima segunda Reunião Geral dos sócios que a sociedade aprovou associação feminina. Em 1989, ano em que a sociedade celebrou o seu centenário, 27% dos sócios da sociedade eram mulheres. No entanto, até esse momento, nenhuma mulher tinha assumido a posição de Presidente Suprema da sociedade. Também, nessa mesma data nenhum dos membros da Directoria ou dos Oficiais de Linha eram mulheres, com a excepção da Directora Suprema para a Juventude. Só 8 anos depois foi eleita uma mulher para a Directoria. A primeira mulher a ser eleita Presidente Suprema, foi a Sra. Carol Rodrigues que assumiu esta posição em 1999.
Obviamente, enquanto a sociedade foi uma associação exclusivamente masculina, não existia participação feminina oficial, excepto na capacidade de Rainha da Festa em louvor ao Divino Espírito Santo. No entanto, desde o primeiro momento as mulheres tiveram um papel importante, pois foram precisamente elas quem contribuiu com grande parte do trabalho necessário para o sucesso e prosperidade da sociedade. No discurso proferido pelo Sr. Alberto P. Azevedo, durante as celebrações do centenário da sociedade, este resumiu a participação feminina na sociedade da seguinte forma: “As senhoras tiveram o seu lugar na nossa sociedade – elas assumiram as responsabilidades e deveres de Directoras ao nível Estatal; têm assumido e desempenhado as funções de representantes em comités constitucionais; e acima de tudo activamente assumiram a liderança dos conselhos subordinados. Sendo, em 26% dos casos a posição de Presidente ocupada por uma mulher, assim como é a posição de Secretária em 42% dos conselhos subordinados. Será que preciso dizer algo mais acerca da sua contribuição para o crescimento e progresso da nossa querida Irmandade?” [tradução minha].
As palavras do Sr. Azevedo não podiam ser mais correctas, pois, mesmo antes que a associação feminina fosse oficializada, eram as mulheres que contribuíam com grande parte das funções de apoio ao nível dos conselhos subordinados. Adicionalmente, a posição de Secretário Supremo da IDES tem sido ocupada desde 1989 por Liliana Ornelas Lourenço. Efectivamente, como a posição de Presidente Supremo é uma posição simbólica, é sobre o Secretário Supremo que resta a responsabilidade da administração da sociedade, e como tal esta é, para todos os efeitos a posição de maior responsabilidade na hierarquia da administração da mesma. Em realidade, a Sra. Liliana Ornelas Lourenço foi a primeira mulher a assumir a posição de Secretária Suprema numa sociedade fraternal portuguesa, não tendo em consideração as sociedades exclusivamente femininas, quando em 1976 assumiu essa mesma posição na Sociedade Fraternal APUMEC. Curiosamente, em 1999 a APUMEC uniu-se à IDES. Desta forma, se consideramos a sua actividade em ambas Sociedades, a Sra. Liliana Ornelas Lourenço tem desempenhado esta função chave dentro da estrutura das Sociedades Fraternais por mais de três décadas. Presentemente, a directoria da IDES é composta por sete membros, três mulheres e quatro homens, mas apenas três dos dez Oficiais Supremos são do sexo feminino. No que concerne a juventude, apenas dois dos oito Oficiais Supremos são masculinos. Ao nível local, a sociedade conta com 65 conselhos locais dos quais são presidentes 29 mulheres e 36 homens, na posição de secretário os números invertem-se pois preenchem este cargo ao nível local 26 homens e 39 mulheres.
Luso-American Life Insurance Society (1868)
A Luso-American Life Insurance Society é o resultado de uma série de mudança de nome e de uniões com outras Sociedades através dos últimos cento e trinta e cinco anos. A Luso-American é descendente da segunda sociedade fraternal fundada no Estado da Califórnia a 6 de Agosto de 1868: a Portuguese Protective and Benevolent Association of the City and County of San Francisco. Depois de várias fusões e mudanças de nome que, de uma forma ou outra reflectiam a sua função como uma sociedade provedora de seguros de vida dentro do seio da comunidade, em 1957 a sociedade ficou a ser conhecida como a United National Life Insurance Company, e em 1993 assumiu a presente denominação de Luso-American Life Insurance Society. As duas últimas fusões, com a Portuguese Continental Union of the United States (com sede em Massachusetts) concretizada em Janeiro de 2002, e com a SPRSI – Sociedade Portuguesa Rainha Santa Isabel em 2007 não resultaram em alteração na denominação da sociedade.
A estrutura administrativa da LUSO é relativamente diferente das demais sociedades fraternais na Califórnia. Basicamente, a sociedade consiste de uma sociedade matriz a Luso-American Life Insurance Society, a qual é responsável pela venda e administração dos produtos financeiros e de seguros oferecidos pela sociedade, sendo também responsável pela administração geral dos investimentos da sociedade, e quatro subdivisões subordinadas, cada uma responsável por uma área distinta das actividades da sociedade: 1) a Luso-American Fraternal Federation é responsável por todas as actividades fraternais, sociais, culturais e cívicas da sociedade no Estado da Califórnia; 2) A Sociedade Portuguesa Rainha Santa Isabel que se dedica a todas as actividades referentes a essa sociedade antes da fusão com a Luso-American Life Insurance Society; 3) a Portuguese Continuental Union of the United States é responsável por estas mesmas actividades na costa Leste dos Estados Unidos, mais precisamente em Massachusetts; e 4) a Luso-American Education Foundation (Leste e Oeste) que primordialmente tem o propósito de promover a difusão da língua e cultura Portuguesa, através da organização de eventos educacionais incluindo uma conferência anual, da distribuição de bolsas de estudo a sócios da sociedade e a estudantes de descendência portuguesa, e patrocínio de diversas actividades de índole educacional e cultural.[3]
A primeira vez que houve qualquer tipo de participação feminina oficializada foi em 1918, na ocasião do quinquagésimo aniversário da sociedade. Embora a sociedade não permitisse associação feminina, levou a efeito um concurso para a eleição de uma rainha como uma forma de angariação de fundos para a celebração do aniversário da sociedade. Só em Agosto de 1945 foram mulheres admitidas como sócias da sociedade com os mesmos direitos e responsabilidades dos sócios do sexo masculino.[4] Tem sido ao nível local, dentro da estrutura dos conselhos subordinados espalhados por toda a Califórnia que a participação feminina tem sido mais prevalente e substancial. Como tal, mulheres ocupam a posição de secretárias da esmagadora maioria dos conselhos subordinados e mais de 50% dos conselhos têm mulheres na posição de Presidente do Conselho. De acordo com a estrutura administrativa do LUSO, em vez de uma directoria, existem quatro directorias. Adicionalmente, a responsabilidade pela administração diária da sociedade cai sobre o pessoal executivo da Sede, que inclui Director Administrativo, o Vice-presidente/Tesoureiro Geral, o Vice-presidente/Secretario Geral e o Director de Vendas e Marketing. Até este momento, todas estas posições têm sido consistentemente ocupadas por homens, com a excepção da presente Vice-presidente/Tesoureira, a Sra. Donalda De Melo que assumiu esta posição em Abril de 1999.
A sociedade matriz – Luso-American Life Insurance Society, nunca foi presidida por uma mulher. Em realidade, até este momento só três mulheres serviram na Directoria da sociedade. Da mesma forma, apenas uma mulher foi até este momento presidente da Luso-American Education Foundation, embora que desde 2003, a Directoria tenha vindo a ser aproximadamente 33% feminina. Em contrapartida, o ramo fraternal da sociedade a Luso-American Fraternal Federation, incorporou mulheres na sua estrutura administrativa quase imediatamente após a associação destas à sociedade em 1945. No entanto, a participação das sócias limitava-se maioritária à função de Directoras Sociais durante as reuniões gerais que se realizam anualmente e também como Directoras para a Juventude dentro da estrutura dos grupos de jovens da sociedade. Desde 1945, só quatro mulheres assumiram a posição de Presidente Supremo, embora várias tenham servido na Directoria da sociedade.
No que diz respeito aos jovens da sociedade, é interessante notar que a situação quase se inverte. A primeira pessoa a assumir a responsabilidade de Presidente Supremo para a Juventude foi uma jovem associada, e, através dos anos, muitas jovens têm ocupado essa posição, assim como Oficiais de Linha e membros da Directoria. Em suma, é obvio que a participação feminina tem sido fundamental em relação ao apoio e manutenção da infra-estrutura desta sociedade fraternal. Como tal, a sua participação tem sido, e continua a ser, indispensável para o desenvolvimento e progresso da sociedade, no entanto, até este momento, a participação feminina em posições de poder na administração do LUSO tem sido mínima.
S.P.R.S.I. – Sociedade Portuguesa Rainha Santa Isabel
A Sociedade Portuguesa Rainha Santa Isabel (SPRSI) foi fundada a 15 de Maio de 1898, em Berkeley, Califórnia, como uma sociedade de “altar”, com a função dupla de manter e ocupar-se da decoração do altar da Igreja de São José nessa mesma cidade, assim como prover apoio material às associadas em momentos de crise. Em 1900, a sociedade cessou de funcionar como uma sociedade de altar e aumentou as suas actividades fraternais estabelecendo vários conselhos subordinados. O Conselho Supremo foi implementado a 20 de Janeiro de 1901, durante uma reunião dos representantes dos diversos conselhos. Nesse mesmo ano, realizou-se a primeira reunião anual da sociedade contando com a presença de 15 Oficiais Supremos e representantes de 35 conselhos subordinados.[5]
A SPRSI diferencia-se das outras sociedades fraternais portuguesas por várias razões. A primeira, e mais óbvia, é o facto de ser uma sociedade exclusivamente feminina. Em realidade, é a única sociedade fraternal Portuguesa que nunca aceitou sócios de ambos sexos. Adicionalmente, até à sai recente fusão com a Luso-American a SPRSI nunca se tinha unido a nenhuma outra sociedade nem nunca mudou de nome durante toda a sua existência de mais de um século. Como a SPRSI é uma sociedade exclusivamente feminina, todos os Directores da sociedade são, e sempre foram, mulheres, com a excepção do Director Médico e de um empregado que serviu a sociedade como vendedor durante um breve período de tempo. Finalmente, a sede administrativa funciona com um número mínimo de empregados, sob a direcção da Secretaria Suprema, especificamente porque o corpo directivo da sociedade é a Directoria, que durante as suas reuniões toma todas as decisões pertinentes à administração da sociedade.
Desde 1975, várias propostas têm sido apresentadas visando a entrada de sócios masculinos. Todas estas propostas foram rejeitadas tanto pela Directoria como pelas sócias em geral, ao serem apresentadas durante a reunião anual da sociedade. A maioria das sócias da SPRSI, estão convictas que a entrada de homens na sociedade mudaria a estrutura da sociedade, o que resultaria numa perca de identidade e do objectivo primordial que propõe que sejam mulheres a prestar apoio a mulheres. No entanto, manter a tradição matriarcal da sociedade, tem alto preço, e durante vários anos esta sociedade teve que enfrentar a possibilidade de se unir a outra sociedade ou perecer. Após a abertura de todas as sociedades fraternais ao associativismo feminino, tornou-se mais provável que as mulheres se associassem às sociedades a que também se associava o resto da sua família, a massa associativa da SPRSI, não estava a ser devidamente renovada e entrou em processo de envelhecimento. Chegando ao ponto em que a idade média do corpo associativo da SPRSI se aproximar aos 60 anos. No entanto, a SPRSI, têm sido uma Sociedade Fraternal Portuguesa bastante activa e, como tal, tem contribuído significativamente para a vida social e cultural da comunidade Portuguesa da Califórnia. Durante o último século, a sociedade tem promovido um número incontável de eventos e tem dado apoio moral e financeiro a inúmeras associadas que visavam continuar estudos universitários. Inclusivamente, o resultado de um dos projectos da SPRSI encontra-se em Portugal, mais precisamente na igreja do Convento de Santa Clara a Nova, na forma de um vitral localizado no altar mor desta igreja e que serve de pano de fundo para o túmulo da Rainha Santa Isabel, madrinha da sociedade e protectora de todas as suas associadas. Em 2007, após vários anos de instabilidade e confrontada com a inevitabilidade de desintegração imposta pelo comissário estatual regulador de asseguradoras, a directoria da SPRSI decidiu inserir-se no grupo institucional da Luso-American Life Insurance Society, todavia mantendo o seu corpo directivo e a sua estrutura associativa intacta.
U.P.E.C. – União Portuguesa do Estado da Califórnia (1876)
A União Portuguesa do Estado da Califórnia (UPEC) foi fundada em Maio de 1876 com o nome de Ordem Independente dos Patriotas Portugueses, por um grupo de 28 homens que tinham emigrado para os Estados Unidos, vindos dos Açores. O objectivo primordial do grupo era organizar uma estrutura de apoio aos seus associados durante momentos de crise, por motivos de doença ou morte. Depois de uma mudança de nome em 1877, os sócios da Irmandade Portuguesa do Estado da Califórnia aprovaram um rascunho da constituição que propunha que os sócios só teriam direito de receber subsídios da sociedade em caso de morte. Em 1880 a sociedade voltou a mudar de nome ficando desde então a ser conhecida como a União Portuguesa do Estado da Califórnia. Nesse momento a sociedade aceitava sócios do sexo masculino entre as idades de quinze e cinquenta e cinco anos, em bom estado de saúde e fluentes em Português. No entanto, o requisito sobre o conhecimento da língua portuguesa foi abolido em 1887 quando o Dr. Andrew J. Dean entrou para sócio da sociedade, e nesse mesmo ano assumiu a posição de Médico Supremo da mesma.
A sociedade aprovou a associação feminina em 1952, mas não houve representação feminina nem na Directoria nem na Linha de Oficiais até 1972, quando a Sra. Mary Costa foi eleita para a posição de Guarda Interno Supremo. Após ter sido a primeira mulher a ser eleita para o corpo administrativo da sociedade, a Sra. Costa foi a primeira mulher a ser eleita Presidente Suprema em 1978. Presentemente, apenas um dos sete Oficiais Supremos da sociedade é mulher, e a posição mais importante dentro da hierarquia administrativa da sociedade - Supremo Secretario/Tesoureiro - nunca foi ocupada por uma mulher. No que concerne a Directoria, dois dos sete componentes são mulheres, assim como a Presidente Suprema da Juventude.
Tal como é o caso em outras sociedades, a representação feminina é mais forte ao nível dos Conselhos Subordinados. No ano de 2004, 25% dos Presidentes, 41% dos Secretários e 37% dos Directores Fraternais dos Conselhos Subordinados eram mulheres. Tendo em consideração que a maioria dos eventos sociais e fraternais são promovidos pelos Conselhos Subordinados, é óbvio que, embora as mulheres não tenham tido uma participação significante ao nível da administração central da sociedade, estas têm contribuído substancialmente para o desenvolvimento e crescimento da UPEC, e, como tal, o futuro sucesso da sociedade está intrinsecamente ligado à continuidade da participação feminina nesta sociedade.
U.P.P.E.C. – União Portuguesa Protectora do Estado da Califórnia (1901)
A União Portuguesa Protectora do Estado da Califórnia (UPPEC) foi fundada a 4 de Fevereiro de 1901 em Oakland, Califórnia por sessenta e quatro mulheres. O seu objectivo era “Praticar caridade e oferecer protecção; cooperar com outras organizações ou indivíduos para promover e desenvolver os bens materiais, sociais e morais das suas associadas; e, quando da morte de associadas, pagar aos respectivos beneficiários a indemnização que legalmente lhe correspondia.”[6] (a tradução é minha) Onze anos depois, em 1912, foram dados os primeiros passos para a admissão de sócios do sexo masculino, quando seis jovens foram aprovados como sócios sociais. Não obstante, a associação masculina não foi completamente aprovada até 1969.
Através de mais de um século, as senhoras da UPPEC têm alcançado e excedido os objectivos estipulados na sua carta constitucional. As suas actividades religiosas, culturais, sociais e caritativas têm tido um enorme impacto tanto na comunidade Portuguesa da Califórnia como em Portugal, e particularmente, nas comunidades onde estão radicados Conselhos Subordinados da UPPEC. Desde que a sociedade foi fundada, todos os Oficiais Supremos e Directores da sociedade têm sido mulheres, com excepção dos Médicos Supremos, e até esta data apenas um homem foi eleito como membro da Directoria da sociedade. Embora, a informação administrativa ao nível dos Conselho Subordinados não esteja disponível, é lógico que a maioria do poder administrativo a esse nível também reste sobre ombros femininos. Desta forma, como a UPPEC, é para todos os efeitos é uma sociedade de administração feminina, a contribuição destas mulheres pode ser medida pelo sucesso que a sociedade tem usufruído através dos anos, assim como pelo respeito com que esta sociedade é tida pelas outras sociedades fraternais portuguesas e pela comunidade em geral.
Pensando no Futuro
Numa conferência da Luso-American Education Foundation relativamente recente, distribuímos um questionário a aproximadamente 60 participantes. Dos meros 11 que foram preenchidos 5 eram do sexo masculino e 6 do sexo feminino, com a idade média de 50 anos. Embora isto represente uma amostra muito reduzida, é interessante considerar as respostas as questões apresentadas. Além das questões de informação básica, como idade, sexo e associação a qualquer sociedade fraternal portuguesa, o questionário propunhas as seguintes perguntas:
1. Na sua opinião, qual tem sido a maior contribuição feminina às sociedades Fraternais Portuguesas na Califórnia?
2. Na sua opinião, qual tem sido a maior contribuição feminina à comunidade Portuguesa da Califórnia?
3. Na sua opinião, a que nível poderão as mulheres mais eficazmente contribuir para o crescimento e prosperidade das Sociedades Fraternais Portuguesas na Califórnia?
A resposta mais frequente à primeira pergunta acerca da contribuição feminina às Sociedades Fraternais foi “apoiando os seus esposos” seguida por “trabalhando arduamente ao nível local e levando a cabo a maioria do trabalho fundamental”. Apenas sete participantes responderam à segunda e à terceira questão. O consenso de opinião no que concerne a segunda questão foi que “as mulheres têm feito a maioria do esforço para manter as tradições e a cultura Portuguesa vivas na comunidade, especialmente entre os jovens.” Na terceira questão os participantes reafirmaram a resposta dada à segunda pergunda e a maioria dos participantes enfatizaram a importância das mulheres como mães e a importância da sua influência sobre as crianças para perpetuar a cultura e a língua Portuguesa e, em geral, para manter a comunidade viva e próspera. Apenas dois participantes, um masculino e um feminino, adicionaram que mulheres deviam assumir posições administrativas nas Sociedades Fraternais Portuguesas.
Estas respostas são dignas de nota, pois espelham as estatísticas proporcionadas pelas sociedades fraternais, com a óbvia excepção das duas sociedades tradicionalmente femininas: SPRSI e UPPEC. Segundo a informação, a participação feminina é mais forte ao nível local, ou seja nos Conselhos Subordinados, o que implica que as mulheres estão a levar a cabo a maioria do trabalho básico requerido para manter a integridade das Sociedades Fraternais, particularmente, na área dos Conselhos de Jovens, visto que a esmagadora maioria dos Mentores Juvenis são mulheres.
No entanto, é importante sublinhar que, nas sociedades com um forte movimento de jovens adultos (como os Conselhos de 20-30 da LUSO) e/ou de jovens (como é o caso na maioria das sociedades), parece transparecer uma maior equidade entre os sexos, visto que as posições administrativas são ocupadas praticamente em igual número por jovens femininos e masculinos, tanto ao nível Estatal dos Conselhos Supremos, como ao nível local dos Conselhos Subordinados. Assim, é lógico concluirmos que funções tradicionalmente atribuídas a homens e a mulheres estão em processo de mudança gradual, e que, nas próximas décadas mais mulheres terão uma participação mais activa dentro da estrutura de poder de todas as Sociedades Fraternais Portuguesas da Califórnia, tal como têm vindo a fazer desde sempre, ao nível local, assim como no seio das suas famílias e comunidades.
Bibliografia
ALMEIDA, Carlos. (1992) Portuguese Immigrants (The Centennial Story of the Portuguese Union of the State of California). 2nd edition, San Leandro, California.
AZEVEDO, Albert P. (1989) Centennial Album and Notes For Its History: Irmandade do Divino Espírito Santo do Estado da Califórnia. Hayward, California.
BRUM, John. (1998) One Hundred Plus Thirty Years. Luso-American Fraternal Federation – Luso-American Life Insurance Society. Dublin, California.
CAMARA, Joanne Vaz. (2001) Centennial Album and History of the Conselho Supremo da União Portuguesa Protectora do Estado da Califórnia. Hayward, California.
REIS, Manuel & Jack Costa. (1968) 100 – Luso-American Fraternal Federation / Luso-American National Life Insurance Society. Oakland, California.
S.P.R.S.I. (1998) Sociedade Portuguesa Rainha Santa Isabel. Oakland, California.
WARRIN, Donald & Geoffrey L. Gomes. (2001) Land As Far As the Eye Can See: Portuguese In The Old West. Spokane, Washington.
[1] Warrin, Donald Land as far as the eye can see. (20)
[2] Almeida, Carlos. Portuguese Immigrants. (25)
[3] One hundred plus thirty years. Luso-American Life Insurance Society (93-94)
[4] One hundred plus thirty years. Luso-American Life insurance Society (31)
[5] Sociedade Portuguesa Rainha Santa Isabel – One hundred years. (18,19)
[6] União Portuguesa Protectora do Estado da califórnia – 100 Years of Union & Protection (35)
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