2002 COLÒQUIO
Há muito que deveríamos ter publicado os textos do debate promovido, no ano de 2002, pela Associação "Mulher Migrante", por ocasião do "Dia Internacional da Mulher".Por razões várias, quem, sucessivamente, teve a tarefa em mãos, não pode levá-la a bom termo.O tema "a nova imigração" deixou, entretanto, de ocupar o seu lugar central nos "media" e nas preocupações da opinião pública. Essa imigração já não é nova - excepto em termos muito relativos - e dispõe, hoje, felizmente, de instrumentos jurídicos e de meios de apoio que, então, faltavam.Neste contexto, valeria ou não a pena, dar a conhecer análises, reflexões, trocas de experiências, procura de caminhos e de soluções para uma realidade migratória particular, que foi a do fim do século XX e início do século XXI, em Portugal?Começamos por colocar o texto integral no blogue "Mulher Migrante em Congresso".Se algumas dúvidas tivessemos sobre o interesse que a matéria mantém - ou não - ter-se-iam dissipado, pois as reacções de associadas nossas foram, todas, positivas e encorajadoras.Reunimos no Colóquio participantes do mundo académico, representantes dos serviços públicos, que, na altura, despertavam para uma problemática tão complexa, e muitos voluntários de ONG's, que já estavam "no terreno". As suas intervenções, o diálogo tão vivo, fluído e informal, entre eles, dão-nos um "quadro de época", realista, humano e emotivo. A época em que o nosso país se converteu, um pouco à pressa, indeciso e impreparado, em "país de imigração". Um título que, há mais de uma década, desde a adesão à CEE, fazia seu, prematuramente, no discurso oficial. Na verdade, o movimento de entrada foi, entre a meia década de 80 e a de 90, limitado - quase que apenas a continuação da imigração tradicional, vinda de Cabo Verde, e de outros espaços da lusofonia, já desde os últimos tempos do velho regime.É após a queda do "muro de Berlim", a coincidir com um período de desenvolvimento económico e de grandes obras públicas, que assistimos, em Portugal, à chegada de muitas dezenas de milhares de europeus de leste - a principal componente da chamada "nova imigração".Momentos irrepetíveis, a despertar acções e reacções que não têm mero interesse histórico, porque nos mostram a sociedade portuguesa, como ela era e ainda é, com espontaneidade e imaginação e com iniciativas e estruturas de voluntariado bastantes para redescobrir, em condições inesperadas, o gosto de ajudar e a vontade de integrar uma vaga gigantesca de estrangeiros. Esta sua capacidade de ser solidária é testemunhada, no decurso do Colóquio, em palavras que traduzem vivências do quotidiano e a procura de soluções práticas, por vezes, encontradas, generosa e engenhosamente, à margem de regras e burocracias. Mas igualmente nos revela as dificuldades de relacionamento entre a "velha" e a "nova" imigração, entre trabalhadores, mulheres e homens, nacionais e estrangeiros de variadas origens, ali ganhando voz na voz de representantes de ONG's mais orientadas para a acção junto de um ou de outro grupo étnico.A nível governamental, a nomeação do Alto Comissário para as Minorias Étnicas marca o início da concepção e desenvolvimento das políticas de imigração. Com muito poucos recursos, de uma forma ainda embrionária, mas com conhecimento profundo dos aspectos sociais desta questão, com uma visão humanista das migrações e uma vontade muito pragmática de acção, que, é justo dizê-lo, se fica a dever ao Dr. José Leitão, o primeiro Alto Comissário.Aquele processo migratório é único e irrepetível, mas os seus ensinamentos têm uma utilidade que o ultrapassa. Deu-nos, para além do mais, a certeza de uma dimensão humana, que é a nossa, e a medida da criatividade para responder, inicialmente, a nível da sociedade civil - mais forte do que muitos a julgariam - a situações imprevisíveis e ao vazio legal e institucional, que poderia tê-las tornado muito mais dramáticas e conflituais.Por tudo isto, me atrevo a concluir que a leitura do registo gravado deste Colóquio, tão informal, com uma exressão própria da oralidade, descontraída e sincera, a confidenciar opiniões e estados de alma, não perde significado nem valor exemplar .Para sempre na memória de quem as ouviu e nas páginas desta recolha, fica, também, a esperança de futuro e a beleza das palavras com que a Secretária de Estado da Igualdade, Drª Maria do Céu Cunha Rego, encerrou os trabalhos.Maria Manuela AguiarLisboa, 24 de Julho de 2009Publicada por Maria Manuela Aguiar em 7/24/2009 ETUma das dificuldades, que explicará o impasse verificado na publicação, durante anos, é levantada pela gravação imcompleta dos debates. Alguns dos participantes não se identificaram e não falaram directamente para o microfone. Foram, assim, ouvidos na sala de conferências, mas deixaram um vazio no registo "audio". Certas partes da gravação, aqui e ali, são inaudíveis, com vozes sobrepostas, de quem intervinha em simultâneo, perdendo-se àpartes e opiniões que, infelizmente, não podem ser transcritas.Um outro aspecto que suscitou dúvidas, foi a opção entre manter a forma simples, directa, autêntica, da expressão oral ou propôr aos intervenientes que revissem ou reescrevessem os textos. Escolhemos a primeira.A nosso ver, a despreocupação com o modo de dizer as coisas, combinada com a força do pensamento e das emoções e com e o grande conhecimento das matérias, é uma das riquezas do registo das comunicações, das perguntas e respostas dadas nas mesas redondas, durante todo o Colóquio.De qualquer modo, seria praticamente impossível contactar, agora, todos os intervenientes e, ao tempo, era do conhecimento geral que os trabalhos estavam a ser gravados para fins de publicação.Foram feitas, apenas, e por igual, quando se julgou necessário, pequenas correccções formais, que não alteram o sentido das frases.
Maria Manuela Aguiar
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